O que o Vale do Silício tem para a Construção Civil hoje. Amanhã não sei.
Esta não foi a primeira, e espero que também não tenha sido a última vez, que investi (e quem faz isto sabe que o investimento não é baixo para uma empresa pequena no Brasil), em passar uma semana em um ecossistema voltado para tecnologia fora do Brasil.
Conheço também ecossistemas muito bem estruturados em nosso país, e também aprendo muito com eles, porém, esta imersão em novas culturas faz a minha cabeça ter três momentos que sempre se repetem: o impacto da novidade, o looping no HD cerebral, e por último, a fatídica pergunta: o que vou fazer com tudo isso no meu negócio?
O melhor de tudo, é que acredito que ao questionar o que fazer com as inovações no seu negócio, todo esse movimento acaba me impulsionando a pensar efetivamente no caminho que o negócio está seguindo e se minhas premissas estão alinhadas com a equipe, os clientes e os produto. Se está certo, ou se está errado, não sei, porém, o que é certo e o que é errado?
Enfim, sem nenhum julgamento acalorado sobre valor de se “gosto” ou “não gosto” do Vale do Silício, o que importa é o que podemos aprender, decantar internamente o conhecimento, e de forma a aproveitar a essência do novo, trocar experiências e retornar com mais vontade de fazer as coisas na nossa empresa darem certo.
Tirando a questão de que somos um país completamente diferentes de US, o que entendemos, desde o começo da jornada por lá, é que o Vale do Silício, em particular, é um ambiente muito próprio e cheio de particularidades, e muitas vezes o que encontramos em termos de maturidade de ecossistema, é distinto de outros locais, mesmo em US. Diversidade de nacionalidades, culturas, etnias, formação, nível de conhecimento, esse o “Way of Life “do local, com uma pitada de pensamento californiano de forte preservação das liberdades individuais e ambientais, e de duas tops universidades, Stanford e Berkeley. Tudo isso, junto e misturado, mais a vontade de empreender, só pode florescer uma concentração de gente querendo fazer acontecer, pra valer!
Tudo fica mais produtivo em uma semana como esta, quando a agenda de reuniões, workshops e networking foi pré-definido por uma pessoa que mora no local, conhece o ecossistema muito bem, entendeu o seu briefing de necessidades, e o melhor, é brasileiro. Este cara é o Luiz Neto da Startse!
Começamos a semana conhecendo um profissional especialista em devices e IoT, que desenvolveu projetos em conjunto com o CEO da KATERRA. Percebemos claramente que este mercado não é para principiantes e, que quando o produto envolve um dispositivo que tem um papel importante de sensoriamento, o conhecimento de software não é suficiente. Se os profissionais desenvolvedores não conhecerem profundamente hardware, e qual serão as melhores ferramentas de integração, o projeto do produto tem grandes chances de não decolar.
A partir daí encontramos uma empresa que teve uma grande ascensão devido as mídias sociais, que é a Apis-cor. Esta experiência é aquela que conseguimos muito frequente no Vale, que é conhecer jovens que não são americanos, neste caso russos, que estão com uma ideia disruptiva de efetivamente mudar a forma de construir com tecnologia 3D print. Eles mostraram em todas as redes sociais no mundo a construção de uma casa de 38 m2 em 24h. A Apis-cor startup está em uma fase de Seed Money, e o mais interessante é descobrir que o que impulsiona os jovens é o desafio de fazer diferente. Na verdade, ninguém consegue prever se serão eles que promoverão está mudança nos próximos anos, porém, com certeza estão neste momento fomentando o novo futuro.
A partir daí, começamos uma literal “viagem” de conhecer empresas, algumas até já conhecidas, mas com a oportunidade de visitá-las e entender melhor “in loco” a experiência e a realidade que as startups de construção estão vivendo nesse momento no Vale.
Empresas com PlanGrid, Rhumbix e SafeSite nos apontam fortemente como a tecnologia pode colaborar com o dia-a-dia de empresas construtoras, nos seus canteiros de obras, e o que o mercado americano já está consumindo de aplicações que melhoram a sua performance e colaboração, tanto relacionado as questões de inspeções com mobilidade, inspeções de segurança e controle de produtividade.
Saindo de São Francisco e indo para Berkeley, conhecemos uma empresa de drones que utiliza o que existe mais avançado nessa tecnologia. Integrado ao sistema da Autodesk Recap, e com um sortimento de equipamentos adequado para cada tipo de necessidade, o usuário é capaz de fazer toda gestão do drone, ou frota de drones, no próprio aplicativo. O sistema da 3DR permite que quando realizado o escaneamento de uma edificação em construção por meio das imagens captadas pelo drone, que os múltiplos andares gerem o modelo 3D, com muita precisão de detalhes. Além disso, é possível realizar inspeções, cálculos de volumétricos, levantamentos de perímetros, entre muitas outras funções. A Inteligência Artificial também está presente no suíte de Analytics da 3DR, e gera insights a partir dos dados captados pelo drone e que são processados no sistema proprietário 3DR.
A proposta da Alice Technologies, outra startup em fase inicial que visitamos, é fazer uma disrupção nos processos de planejamento e controle de obras, otimizando custo e prazo. A empresa utiliza inteligência artificial e propõem um aprendizado de conhecimento de gestão de obras aliado a algoritmos que geram cenários inteligentes por meio destes aprendizados, e, define a META de melhor custo e prazo, com uma grande capacidade de combinações entre os diversos sequenciamentos de serviços, aliado, obviamente, a inserção neste contexto de múltiplas variáveis, que os profissionais de área já conhecem, e que também retroalimentam os algoritmos. É um sistema ainda muito à frente do convencional, e ainda tem um caminho de validação com mais massa crítica de volume de empresas e empreendimentos para melhorar o aprendizado da própria geração de insights, isto é, quanto mais dados conseguir popular vai ficar mais preciso e melhor. O que mais chama a atenção nesta empresa é a forma muito diferente como ela trata este assunto, onde uma disciplina tão antiga e conhecida no mundo da construção – planejamento – é executado da mesma forma e muito pautado na experiência do profissional tem uma proposta de ser realizada como uma “receita”, mas que fica “turbinada pela tecnologia. É possível que este tipo de utilização de tecnologia de IA leve nossos planejamentos para outro patamar nos próximos anos. De qualquer forma, visitar uma casa do século 19 em Menlo Park na Califórnia, e dar de cara com uma empresa muito além do seu tempo, que utiliza uma tecnologia que chega até ser difícil de compreender, é no mínimo uma experiência diferente.
Também estivemos na conhecida PlugandPlay Tech Center, que é uma aceleradora com um programa bem estruturado, que tem também a sua própria Venture Capital, e conhecemos a startup chamada Idevelop.city. Este sistema oferece para empresas de Real State (Incorporadoras) uma visão fácil e otimizada para tomada de decisão a partir de todas as áreas mapeadas (Google Maps utilizado ao extremo), e já submetidas as leis de zoneamento possível para o local. O possibilita um estudo de massa em 3D, e ajuda a fazer um estudo comparativo de cenários por meio de diferentes tipos de informações que podem variar de acordo com as diretrizes e variáreis do empreendedor. Uma ferramenta que, se for exponenciada mundo a fora, pode trazer uma rapidez na tomada de decisões para o desenvolvedor do negócio imobiliário, levando ao: make faster “go, no-go or go to council” decisions.
Outra startup que trouxe um dispositivo aliado a inteligência artificial é a Open Space. Visitamos estes empreendedores no Coworking Werkwise, na Montgomery St., San Francisco, onde o conceito do negócio está pautado em utilizar a IA para levar a facilidade e agilidade do Street View para as edificações em construção. Três mentes brilhantes, uma de Stanford e duas do MIT, se juntaram para criar muito mais do que a simples captura de imagens da construção para os gestores da obra. A ideia parece simples, e na verdade é daquele tipo de ferramenta que poderia ser erroneamente comparada a um colaborador do canteiro de obras que coloca uma câmera GoPro acoplada ao seu capacete e sai capturando imagens da obra (vai criar um grande bando de dados). Porém, o resultado final da solução da Open Space, apesar de simples para o usuário, não tem nada de simples no seu BackOffice. O método de captura de imagem também está pautado em acoplar uma câmera Garmin VIRB 360 no capacete do colaborar que percorrerá o canteiro de obras, e todo o movimento do usuário no andar é trackeado e registrado no mapa ou projeto do local. Após a captura de imagens, a objetivo do sistema da Openspace é de que o algoritmo de inteligência artificial, desenvolvido por eles, faça todo o trabalho restante. É possível fazer microviews das imagens capturadas, bem como comparar de forma fácil e ágil o mesmo local (dividindo a tela do computador – splitscreen). Como outros softwares, também pode-se fazer marcações nas imagens via pinpoints e acompanhar registros de ocorrências, como enviar comunicações para os responsáveis. As integrações com outros sistemas também estão disponíveis utilizando APIs. A precisão das informações é alto grau de confiabilidade com alta definição. E empresa está no mercado faz pouco mais de três meses e o objetivo em curto prazo será oferecer as vantagens da inteligência artificial por meio de insights.
Finalmente, mais duas startups que vimos foi uma de chatbot, e que já temos algumas opções no mercado brasileiro, mas que a variedade tem crescido muito no mundo todo, e outra interessante a Indus.ai, que oferece um serviço de câmeras fixas para os canteiros de obras aliado a inteligência artificial. Esse tipo de serviço pode ser um bom aliado das empresas quando comparado ao sensoriamento de equipamentos e materiais, pois existe ainda muita dúvida sobre a viabilidade do custo e eficiência deste tipo de trackeamento, uma vez que a implementação física individualizada requer ainda estudos por meio de business case e provas de conceitos – POCs.
Muita informação e muito aprendizado marcou a dinâmica da semana! Os empresários e profissionais brasileiros que estavam na mesma jornada, aproveitaram o momento de inserção em empresas focadas no setor da construção para contribuir com questionamentos inteligentes e assertivos. O que é fato, é que os profissionais brasileiros que estão nas empresas competitivas aqui no nosso mercado são tão bons quanto os que estão em qualquer lugar do mundo, porém, tem o desafio de surfar mais do que ondas, eles enfrentam tsunamis. E ter a capacidade de lidar com toda esta turbulência e ainda ser competitivo, bem, isto é uma característica muito particular que o brasileiro aprende desde o início da carreira. As vezes a duras penas, mas que gera resiliência como ponto forte.
Se valeu? Valeu completamente por toda esta experiência, como acho que valeu ter ido também a Dubai, China, Alemanha, Colômbia e Chile visitar empresas em anos anteriores. Não é um conhecimento tão vasto assim, o meu, mas aprender que o existe em outros lugares do mundo só nos mostra que o tamanho do desafio também é grande, e que a minha obstinação em aprender sempre, é no mínimo, uma gratidão.
Espero compartilhar com todos que trabalham diretamente comigo as ansiedades de fazer cada dia mais e melhor, e contribuir para o crescimento do setor de forma saudável e sustentável. Não que eu seja uma adepta incondicional da sustentabilidade, mas realmente sou consciente em como os processos que praticamos aqui podem ser melhorados, e que dentro do nosso papel de desenvolvedores de ferramentas de tecnologia para o setor, que tenhamos a capacidade de fazer bem o nosso papel.
Escrito em 27/08/2018 por Ana Cecilia T R de Souza – CEO Autodoc –
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